Por: Jânio Santos de Oliveira Presbítero e professor de teologia da Igreja Assembléia de Deus Taquara - Duque de Caxias - RJ estudosbiblicosdesantificaao.blogspot.com | |||
![]()
A Ceia do Senhor é uma experiência que estremece a alma, por causa da profunda significação que traz. Foi durante a antiga celebração da Páscoa, na véspera de Sua morte, que Jesus instituiu uma nova e significante refeição, uma “refeição de comunhão”, a qual observamos até os dias de hoje, e que é a mais alta expressão da adoração cristã. É um “sermão vivido”, relembrando a morte de nosso Senhor e ressurreição, e vislumbrando o futuro em que retornará em Sua glória.
A Páscoa era a festividade mais sagrada do ano religioso judaico. Comemorava a praga final no Egito, quando os primogênitos dos egípcios morreram e os israelitas foram poupados por causa do sangue de um cordeiro que fora aspergido em seus portais. Então o cordeiro foi assado e comido com pão sem levedura. A ordem de Deus foi que através das gerações vindouras a festividade fosse celebrada. A história está registrada em Êxodo 12. ![]() Paulo inclui uma afirmação não encontrada nos Evangelhos: “Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor” (I Co 11:27-29). Podemos perguntar o que significa participar do pão e do cálice “indignamente”. Pode significar ignorar o verdadeiro significado do pão e do cálice, e se esquecer do tremendo preço que nosso Salvador pagou por nossa salvação. Ou pode significar permitir que a cerimônia se torne um ritual morto e formal, ou vir à Mesa com pecado não-confessado. Para guardar a instrução de Paulo, cada um deve examinar a si mesmo antes de comer do pão e beber do cálice, em observância ao aviso. Outra afirmação de Paulo que não se encontra incluída nos Evangelhos é “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha” (I Co 11:26). Isto coloca um limite de tempo à cerimônia: até a volta de nosso Senhor. Através destes breves relatos aprendemos como Jesus usou dois dos mais perecíveis elementos como símbolos de Seu corpo e sangue, e os inaugurou como um monumento à Sua morte. Não foi um monumento de mármore esculpido ou latão moldado, mas de pão e suco de uva. Ele declarou que o pão testemunhava de Seu corpo que seria partido: não houve sequer um osso partido, mas Seu corpo estava tão terrivelmente moído, que dificilmente se reconhecia (S l 22:12-17; Is 53:4-7). O suco de uva testemunhava de Seu sangue, indicando a terrível morte que em breve experimentaria. Ele, o perfeito Filho de Deus, se tornou a realização de incontáveis profecias do Velho Testamento a respeito do Redentor (Gn 3:15, Sl 22, Is 53, ). Quando Ele disse: “Fazei isto em memória de Mim”, indicou que esta era uma cerimônia a ter continuidade no futuro. Também indicou que a Páscoa, que exigia a morte de um cordeiro e vislumbrava a vinda do Cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo, se fazia agora obsoleta. O “Novo Testamento” tomou seu lugar quando Cristo, o Cordeiro da Páscoa (I Co 5:7), foi sacrificado (Hb 8:8-13). O sistema sacrificial não se fazia mais necessário (Hebreus 9:25-28). Os principais textos que nos falam acerca da instituição da Ceia na Igreja de Cristo. São eles: Mt 26:26-29; Mc 14:22-25; Lc 22:19-20; Jo 6:48-58; At 2:41-46; 20:7,11; ICo 10:15-17; 11:23-26. Vemos que esta ordenança é chamada de partir o pão (At 2:42,46, 20:7, 11) e de Ceia do Senhor (I Co 11:20). Seria bom notar que estas são as únicas ocorrências destes termos na Bíblia. Apesar da maioria das igrejas locais adotarem o segundo nome, não é errado se referir a Ceia do Senhor como o partir o pão. Já a expressão Santa Ceia deve ter sido introduzida no vocabulário de algumas igrejas locais com a melhor das intenções, contudo não é uma expressão tirada das Escrituras Sagradas. Como pudemos observar os textos são muito sucintos e nenhum deles nos ensinam a forma de celebrar a Ceia do Senhor. Quanto a forma, o que vemos é uma celebração simples e desprovida de liturgia, ritos e "trajes especiais" (Isto não quer dizer que o conteúdo e/ou o significado não sejam ricos e profundos). Outro ponto importante é que o Senhor usou elementos comuns aos costumes judaicos para instituir a Ceia. Ele não criou nada novo. O Pão era um dos que já estavam à mesa, o mesmo pode se dizer a respeito do vinho. Eram elementos comuns da alimentação diária daquele povo. O fato de estarem à mesa compartilhando uma refeição era algo muito significante na cultura oriental. Comer com alguém era muito mais do que simplesmente se alimentar; significava associação, comunhão, compromisso e interesse mútuo. Os três relatos dos Evangelhos e o relato de I Coríntios se complementam e incluem as principais características da Ceia. Mateus e Marcos combinam entre si, bem como Lucas e Paulo também. A diferença principal entre estes dois grupos são que Mateus e Marcos omitem a frase "fazei isto em memória de mim" e incluem "derramado em favor de muitos" depois de se referirem ao sangue da aliança. Lucas diz: "derramado por vós." Em lugar da observação que o Senhor fez da Sua futura reunião com os discípulos no Reino de Deus, Paulo faz referência a proclamação da morte do Senhor "até que ele venha". Estas palavras de Paulo refletem, de forma inequívoca, a esperança escatológica da volta do Senhor para arrebatar a Sua Igreja. Esperança esta que é, por assim dizer, reavivada pela celebração da Ceia do Senhor. É também através de Paulo que tomamos conhecimento do profundo significado da Mesa do Senhor como uma comunhão (koinonia) com o Senhor ( 1 Co 10:16). É de bom tom lembrar que a nossa comunhão não é com o Cristo morto e sim com o Senhor ressurrecto, vitorioso, glorificado e poderoso. Paulo também nos mostra a unidade da Igreja, pois assim como compartilhamos de um único pão, assim também nos reunimos como um único corpo de Cristo (I Co 10:17). Assim vemos que a Ceia do Senhor simboliza não somente o próprio corpo e sangue do Senhor Jesus, mas também o Seu Corpo místico, que é a Igreja. Quando "todos participamos do mesmo pão" isso significa, entre outras coisas, que nós, apesar de sermos individualmente muitos e diversos, nesse ato ficamos sendo uma coisa só: um "pão" ou um "corpo", ou como se fala em I Co 2:5, um "sacerdócio" (S. E. Mac Nair. Cartas Ocasionais, p. 120). Quando Paulo se refere à noite em que o Senhor foi traído, nossas mentes são levadas aos textos que narram da instituição da Ceia. Nos deteremos, um pouco, nas palavras proferidas por Jesus naquela noite, buscando entender o significado delas. Passemos a uma comparação entre as narrativas: Mateus: "Tomai comei; isto é o meu corpo". Marcos: "Tomai, isto é o meu corpo". Lucas: "Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim". Mateus: "Isto é o meu sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos para a remissão de pecados". Marcos: "Isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança derramado em favor de muitos". Lucas: "Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado por vós". A ceia é uma demonstração de que a essência da vida cristã; é receber a Cristo como alimento espiritual. "Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, quem de mim se alimenta, por mim viverá" (Jo 6:56,57). Portanto, a fé é algo fundamental ao participarmos da Ceia. O mero participar da Ceia não traz os benefícios da obra de Cristo, estes devem ser apropriados pela fé. O cristão deve alimentar a sua alma com Cristo (Jo 6:51), e a Ceia é apenas uma figura disso. Cristo é o Senhor da mesa, mas Ele não pode ser dado e recebido automaticamente pela simples realização do ritual da Ceia. Outra frase de Jesus que é repetida duas vezes por Paulo é: "fazei isto em memória de mim" (Lc 22:19; I Co 11:24,25). Esta ordem tem por finalidade que nós não nos esqueçamos a obra redentora que ele efetuou na Cruz do Calvário em nosso favor. Seria o mesmo que dizer, "em lembrança de mim" ou "em recordação de mim". Ou seja, ao realizar a Ceia Memorial, a igreja lembra a morte sacrificial de Jesus Cristo e a realidade dos benefícios advindos deste ato. Em outras palavras a Ceia é uma dramatização que nos recorda o que aconteceu no Calvário. O pão ao ser quebrado nos lembra que Cristo foi "moído pelas nossas iniqüidades"(Is 53:5; Tt 2:14; I Pe 2:24;Hb 10:10). O vermelho do vinho nos lembra que Ele derramou seu sangue para tirar o nosso pecado, nos santificar e nos aproximar de Deus (Ef 1:7, 2:13; Cl 1:20; Hb 9:28, 10:19, 13:12; I Jo 1:7; Ap 1:5, 5:9). Ao celebrarmos a Ceia, os benefícios advindos do sacrifício do Senhor Jesus devem ser trazidos à nossa memória e gerar no nosso coração um sentimento de profunda gratidão e adoração a quem tanto nos amou. Na Ceia, a Igreja, o Corpo vivo de Cristo, vislumbra as melhores coisas que Deus tem preparado para nós, tornando viva a nossa bendita esperança (Tt 2:13). A Ceia do Senhor apresenta uma tríplice perspectiva: Passada lembra um evento e revive sua realidade e valor; Presente, anuncia e dramatiza a obra redentora do Senhor, convocando a Igreja ao cumprimento da sua missão; e, Futura, exorta seus participantes à espera do Senhor glorificado que vira consumar o plano de Deus. E, nessa tríplice perspectiva, a Ceia é o mais forte elo da unidade corporativa da Igreja cristã, "porque todos participamos do único pão" (I Co 10:17 - Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. p. 415). Existem hoje quatro posições mais comuns acerca da Ceia do Senhor. São elas: Transubstanciação (Católica Romana): no momento da Ceia (eucaristia) os elementos são transformados no sangue e corpo de Cristo. Consubstanciação (Luterana): o corpo e o sangue de Cristo estão presentes e combinados com os elementos da Ceia. Presença Espiritual (Calvino): Cristo está presente com os elementos. Memorial (Zwingli, Batista, Pentecostal, Irmãos): os elementos são somente símbolos, e a presença de Cristo e relativa à fé do participante. Cada um tem que tomar a Ceia com a atitude correta e com fé. Detalhes Importantes: Cristo não tinha morrido quando institui a aliança. O propósito é proclamar a morte do Senhor, não recrucificá-lo. O uso da linguagem inclui metáfora (Ex.: isto é o meu corpo; ou, este é o cálice da nova aliança). Não é usada uma linguagem literal assim como "eu sou a porta" também não é. No entanto, tendo visto tão grande riqueza de significados belos e profundos, é de se estranhar que elementos alheios à Ceia do Senhor tenham sido introduzidos na sua celebração; tomando vulto de grande importância e usurpando o lugar do Senhor. Aquilo que era para ser singelo foi acumulado de um ritualismo que tira a nossa atenção do essencial. Em algumas igrejas locais o horário, a mesa, toalhas, guardanapos, paletó, gravata, cálice ou cálices, pão com ou sem fermento, tem tido mais destaque que o Senhor da Ceia. São tantas regras e preceitos que a simplicidade e a singeleza com que era celebrada pela igreja de Atos a muito ficou para trás. Temo que alguns irmãos estejam beirando a idolatria quando dão demasiado valor a mesa e a toalhas chegando ao ponto de deixar de participar da Ceia quando um destes detalhes não estão de acordo com o seu gosto pessoal. Digo gosto pessoal com a convicção de que estas coisas são regras humanas que não se encontram na Bíblia. E se não estão na Palavra de Deus não deveriam ser impostas na Igreja do Deus da Palavra. Criticamos, e com razão, as igrejas que dão ao pastor a exclusividade de repartir os elementos, mas em algumas igrejas locais a distribuição dos elementos é exclusividade de presbíteros e diáconos; e isto se estiverem devidamente uniformizados. Alguns dizem: "quem vai participar da Ceia pode vir sem paletó, mas quem vai servir deve trajar paletó e gravata." Ai cabem duas perguntas: (a) quem é mais importante, o que distribui os elementos ou o que recebe? (b) onde, na Bíblia, é exigido traje especial para servir a Ceia? Para a primeira pergunta a resposta é: "nenhum dos dois e sim o Senhor." A segunda resposta é: "Além da exortação de que o cristão deve se trajar decentemente (não só nas reuniões da igreja), em nenhum lugar encontramos tal instrução". E assim, em muitos lugares é dada tanta ênfase a forma que o conteúdo sofre detrimento. Quando privamos um irmão de, em qualquer dos dois aspectos, de participar da Ceia, que não é nossa, mas do Senhor, por motivos alheios à Sua Palavra, estamos pecando. "Receio muito a ocupação com formas e ritos: com a matéria e não com o espírito - que é Cristo. Tenho notado que uma demasiada ocupação com a parte material do serviço tende a depreciar a parte espiritual" Existe uma situação muito comum nas igrejas locais. Refiro-me as pessoas que deixam de participar da Ceia por acharem que um irmão não está participando dignamente. Mais uma vez gostaria de compartilhar com vocês o conselho de um sábio: "Alguns, com uma facilidade extraordinária, afastam-se da Ceia em qualquer ocasião em que não aprovam a conduta de alguém ali: um modo de proceder que a Escritura não ensina. Que Deus nos ajude a fazer parte constantemente desta mesa gloriosa que significa o elo de comunhão de todo o cristão com o Senhor Jesus até que Ele venha nos buscar para si, amém! |
terça-feira, 18 de setembro de 2012
A importância da ceia do Senhor
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário